Já faz um tempo, li uma coluna do Elio Gaspari, dessas que saem nas edições de domingo do Correio do Povo, daquelas bem ao seu estilo, de vocabulário irônico e cruel. Falava, e bem, do Governo Lula, ao tratar dos benefícios trazidos às classes pobres pelas medidas de desoneração fiscal sobre os materiais de construção. Descrevia a forma pela qual as classes baixas erguem seus “puxadinhos”, geralmente com a ajuda de amigos e parentes, e o quão importante isso era para essas pessoas e o impacto disso sobre suas vidas. Descrevia também o desconforto dos ricos do país com essa alegria da ralé, comparando com o que aconteceu no século XIX imediatamente após o fim da escravidão, quando os negros libertos passaram a freqüentar as ruas, desempregados e bêbados, como todos os cidadãos de bem. Percebi naquele momento o meu espírito de burguês enrustido, que se escancarou na minha frente num choque de verdade.
Nessa manhã, rumei para a faculdade vindo de Sapucaia do Sul, na grande Porto Alegre. Passar um tempo lá, por menor que seja, é sempre uma experiência interessante: as pessoas nas ruas, os caras tentando impressionar as gurias que os seduzem com seus bonitos decotes e saias curtas, além dos muitos botecos, e dos tradicionais churrascos e cervejadas em todas as casas, nos fins de semana.
A viagem até lá se faz de trem ou de ônibus, este que passa pela rodovia federal que cruza várias cidades da região. Nas minhas idas, geralmente poucas pessoas no coletivo, a maioria senhoras, todas de saias longas e lendo bíblias. Nas voltas, não costumo prestar muita atenção, e as costumo fazer de trem. Hoje, no entanto, foi diferente: acordei às 5h30min, ainda noite, para vir cedo, sob uma chuva torrencial que chegava a assustar. Vim de ônibus dessa vez, que estava cheio de homens e mulheres que se dirigiam visivelmente para seus empregos. Todos tão trabalhadores que cheguei a ficar com vergonha de mim mesmo. Em cada parada diante de uma firma, desciam muitos, que se despediam carinhosamente dos que prosseguiriam a viagem (particularmente do motorista), numa espécie de cumplicidade fraternal. Ali, eu vi o Brasil.
Um amigo meu que viajou para São Paulo se disse muito chocado com o contraste da pobreza que por lá encontrou. Lá, o país dá a cara ao tapa, e não finge ser o que não é. É um Brasil com menos vaidades. No meio de seu relato, soltou a seguinte expressão, simples e profunda ao mesmo tempo, como são os contrastes que nos caracterizam: “É muita pobreza, cara... Puta merda, esse país precisa crescer...”.
Nessa manhã, rumei para a faculdade vindo de Sapucaia do Sul, na grande Porto Alegre. Passar um tempo lá, por menor que seja, é sempre uma experiência interessante: as pessoas nas ruas, os caras tentando impressionar as gurias que os seduzem com seus bonitos decotes e saias curtas, além dos muitos botecos, e dos tradicionais churrascos e cervejadas em todas as casas, nos fins de semana.
A viagem até lá se faz de trem ou de ônibus, este que passa pela rodovia federal que cruza várias cidades da região. Nas minhas idas, geralmente poucas pessoas no coletivo, a maioria senhoras, todas de saias longas e lendo bíblias. Nas voltas, não costumo prestar muita atenção, e as costumo fazer de trem. Hoje, no entanto, foi diferente: acordei às 5h30min, ainda noite, para vir cedo, sob uma chuva torrencial que chegava a assustar. Vim de ônibus dessa vez, que estava cheio de homens e mulheres que se dirigiam visivelmente para seus empregos. Todos tão trabalhadores que cheguei a ficar com vergonha de mim mesmo. Em cada parada diante de uma firma, desciam muitos, que se despediam carinhosamente dos que prosseguiriam a viagem (particularmente do motorista), numa espécie de cumplicidade fraternal. Ali, eu vi o Brasil.
Um amigo meu que viajou para São Paulo se disse muito chocado com o contraste da pobreza que por lá encontrou. Lá, o país dá a cara ao tapa, e não finge ser o que não é. É um Brasil com menos vaidades. No meio de seu relato, soltou a seguinte expressão, simples e profunda ao mesmo tempo, como são os contrastes que nos caracterizam: “É muita pobreza, cara... Puta merda, esse país precisa crescer...”.
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