terça-feira, maio 29, 2007

Harakiri

No Correio do Povo de hoje:

Japão: ministro envolvido em escândalo se mata

Tóquio – O Ministro da Agricultura do Japão, Toshikatsu Matsuoka, se suicidou ontem depois de ter sido envolvido em escândalo por suposta malversação de fundos públicos. Segundo a agência Kyodo, esta é a primeira vez que um ministro japonês em exercício se suicida desde a Segunda Guerra Mundial, apesar de pelo menos quatro parlamentares nipônicos terem se matado nos últimos anos.”

Enquanto isso, no Brasil...

segunda-feira, maio 28, 2007

Anistia Internacional e Direitos Humanos

A Anistia Internacional publicou seu relatório de 2007 acerca da situação dos Direitos Humanos no mundo e pede para que blogueiros ajudem na sua divulgação com links em suas páginas. Estou fazendo minha parte: acesse o relatório por aqui.

Nele, o Brasil é citado como um país que desrespeita recorrentemente os Direitos Humanos, em particular através de seu grande índice de homicídios cometidos, principalmente, por forças policiais. Acerca do mundo, o relatório aponta a um regresso na questão dos Direitos Humanos em função do que chama de "política do medo", onde a campanha contra o terrorismo tem legitimado ações contra esses direitos em diversas regiões do planeta.

Os funcionários de escritórios da Anistia Internacional de todo o mundo também têm um blog onde comentam acerca dos Direitos Humanos e de seus trabalhos nas regiões em que atuam. Acesse-o pela página da ONG ou por aqui.

Ajude a divulgar a Anistia Internacional.

sexta-feira, maio 25, 2007

Crônica sobre uma simples partida de futebol

Há muita gente que me convida para assistir a jogos de futebol em bares ou em grupo, na casa de alguém. Minha teoria diz que, quem faz isso, não entende de futebol. Ora, como alguém pode assistir a uma partida importante, como a que tivemos na última quarta-feira, num clima de desconcentração? Para mim, jogo do Grêmio é coisa séria. Não me divirto nem um pouco assistindo às partidas, seja em casa, seja no estádio. Fico numa tensão que impressiona quem está ao meu lado, o que denuncia, enfim, aqueles que não entendem o que realmente o futebol significa.

Superstição é o que não me falta. Nos últimos tempos, andava acreditando que ouvir aos jogos do Grêmio pelo rádio lhe dava mais sorte. Na primeira partida das quartas-de-final da Libertadores, no entanto, lá em Montevideo, escutei o jogo pelo rádio e o perdemos por dois a zero. Passei a achar difícil a classificação e, nessa semana, mandei a superstição se catar: cheguei em casa na quarta-feira um pouco antes das 19h e decidi assistir ao jogo num pequeno restaurante aqui no Centro, cujos proprietários eu já conhecia. Fui, claro sozinho.

Cheguei ao restaurante vazio, de luz amarela e mesas de madeira pesada. Depressivo. Logo fui atendido por uma guria muito simpática e bonita, que estranhamente me ofereceu somente cerveja e vinho. Pedi só meia jarra de vinho, para não exagerar. Dez minutos depois, iniciaram-se os preparativos para o jogo, e aos poucos o pequeno restaurante foi se enchendo de gente, garrafas e fumaça de cigarro. Nesse meio tempo, descobriu-se um senhor uruguaio infiltrado entre os gremistas que se disse torcedor do Peñarol. Que fosse! Fato é que todos ali pareciam se conhecer e o ambiente se tornou, mesmo para mim, sozinho, bastante simpático.

Lembro que o primeiro tempo passou rápido. Queria que o Tricolor fizesse pelo menos um a zero na primeira etapa. Fez dois. Estava perfeito! No intervalo, o tal senhor uruguaio decidiu ir embora, sendo impedido simpaticamente pelos demais torcedores. Ouviam-se somente os “o senhor fiquei aí, ninguém se mexa até o fim do jogo”. Afinal, para outros, assistir aos jogos em bares é que é a superstição.

Para o segundo tempo, pedi outra meia jarra de vinho. Achava que valeria a pena. A função do vinho, porém, foi mais me tranqüilizar que qualquer outra coisa, pois o bendito terceiro gol não saiu. Fiquei durante uma determinada altura da partida um tanto distraído a ponto de, por sorte, perder o lance em que a bola estourou no nosso travessão – somente então voltando a mim devido ao silêncio que se fez no restaurante.

Anunciaram-se os pênaltis. Um dos sujeitos que haviam impedido o uruguaio de sair do bar cobriu a televisão com uma toca do Grêmio, sobre a qual posicionou uma imagem da Nossa Senhora Aparecida. Talvez pelo efeito do vinho, os pênaltis passaram para mim tão rápido quanto o primeiro tempo, e não lembro de ter temido pela derrota. O fato dos pênaltis errados pelos jogadores do Defensor terem sido os primeiros talvez tenha ajudado nisso.

Comemoramos muito! A imagem de Nossa Senhora foi beijada por alguns torcedores, enquanto outro recomendava que todos, no dia seguinte, fossem a uma igreja como forma de agradecimento. Paguei o que devia e saí rapidamente do restaurante. A senhora que veio me atender por fim, tão simpática quanto à guria bonita do começo, fez alguns rápidos e humorados comentários sobre o jogo, me convidando a assistir lá outras partidas, o que certamente farei.

Ontem, daí, visitei a Catedral Metropolitana.

Algumas palavras de Saramago

Entrevista com José Saramago, único escritor em língua portuguesa a já ganhar o Prêmio Nobel, realizada pelo Jornal da Globo. Assista-a por aqui.

sexta-feira, maio 18, 2007

Bumper Ball

Se há de teres um vício, que seja o jogo - além da cafeína, é claro. De preferência, os dois.

Conheça o Bumper Ball, joguinho que virou febre entre os bolsitas da Faculdade de Economia e que tem provocado mais discussões e brigas que as metas de inflação do governo. Jogue-o aqui.

quinta-feira, maio 17, 2007

O Zunido

Era um zunido fraco, baixo, mas constante. Ficava o tempo inteiro somente na sua mente. Era um zunido psicológico, não físico. Somente ele o escutava, ninguém mais. Havia perguntado isso a outras pessoas, à sua mãe principalmente. Ela respondia que não escutava nada, mas que talvez só ela não conseguisse, pois estaria ficando surda devido à idade. Ficava a dúvida, então, se o seu zunido é que era metafísico, ou a surdez de sua mãe.

No fundo, sabia que era o zunido. A sua mãe não era a única questionada sobre isso, afinal. O zunido não mudava de volume, de tom, de forma, de nada, independentemente de onde estivesse ou do que fizesse. Era o mesmo zunido, sempre. Quando caminhava na rua, às vezes se distraía e parecia que o zunido não estava mais lá. Mas bastava perceber isso para voltar a ouvi-lo. Exatamente o mesmo zunido.

O zunido fazia as coisas lhe parecerem diferentes, mas ele não sabia bem do quê. O zunido afetava outros de seus sentidos. Além de ter dificuldade em compreender as pessoas, o zunido fazia o mundo parecer mais rápido, mais apressado. O zunido o estressava, não lhe dava sossego. Não conseguia fazer nada durante seus dias cansativos e noites insones: não podia ler, não podia ouvir música, não podia conversar, não podia ver televisão, não podia fazer nada. Suas relações com as outras pessoas eram moldadas pelo zunido que ouvia. Tudo na sua vida, aliás, parecia ser assim.

Raras vezes se queixava disso, e, quando o fazia, os outros lhe perguntavam desde quando ouvia o zunido. Ele não sabia responder. Não lembrava do momento em que isso havia começado, nem desde quando passou a perceber o zunido. Algumas vezes acreditava que sempre havia sido assim, outras vezes acreditava que não. Não lembrava se havia sido algum dia mais feliz, nem conseguia pensar se o zunido era causa ou conseqüência de algo que lhe ocorrera. Nada. Sua existência se resumia ao zunido.

Um dia, não suportando mais essa situação, num desespero que o zunido lhe impôs - como em tantas outras vezes - saiu de casa. Passou a caminhar vagarosamente pelas redondezas, sem pensar em nada fixo, simplesmente em devaneios tumultuados. Chegou ao porto vazio da cidade, passando a olhar o balançar da água, os poucos montes de terra que sobre ela estavam, o horizonte, o que pôde. Observou também alguns pássaros, a calmaria das coisas, as poucas pessoas.

E então, passou a caminhar pela costa. Primeiro devagar, depois mais rápido. E mais, e mais. E começou a correr, o mais veloz que conseguia. E mais, e mais. E o vento batia nas suas orelhas, fazendo barulho. Ele, agora, ouvia o barulho do vento, e não mais o zunido. Essa sensação lhe pareceu maravilhosa, e ele começou a correr mais e mais rápido. E ainda mais. E o barulho do vento nas suas orelhas lhe dava um prazer nunca sentido antes. E ele passou a reparar as coisas a seu redor, e viu a vida mais calma, mais normal, mais simples. E passou a entender o que as pessoas falavam. E passou a ser igual, como sempre quisera, e a ouvir como todos ouviam. E isso lhe fez correr ainda mais rápido, e mais, e mais... Até escutar, enfim, somente o silêncio.

Do vento.

quarta-feira, maio 16, 2007

O "novo jeito" de fazer política ambiental

A questão das empresas de celulose no RS, por Marco Aurélio Weissheimer, na Carta Maior. Leia a matéria aqui.

sexta-feira, maio 11, 2007

O Tudo e o Nada

Havia dois sujeitos.

O primeiro tinha de tudo na vida, no sentido mais materialista do termo. Tinha uma boa casa onde morava sozinho, às vezes com alguma companheira - que mudava com freqüência. As conquistava com suas boas aptidões físico-estéticas, e com seu carro. Era um carro moderno, recente, última moda. Versátil. Tinha uma poupança em dinheiro que havia sido acumulada por seus pais, e que estava reservada para algum grande empreendimento na sua vida. Talvez algo ligado a seus estudos. Sim, ele fazia faculdade, através da qual mantinha uma típica vida de universitário. Trabalhava também, claro.

Já o segundo não tinha nada. Não era pobre, mas não tinha nada. Morava num trailer, também sozinho, onde guardava suas bugigangas. Não eram muitas, nada mais do que alguns poucos móveis, utensílios de cozinha simples, roupas, uma cama. Havia uma TV e um rádio, que nem sempre podiam ser sintonizados. Os livros não eram muitos, mas lia algumas revistas, geralmente números antigos. Não trabalhava, mas fazia bicos com seus desenhos. Era o suficiente para alguns sanduíches.

Um dia, os dois perderam tudo.

O primeiro não foi mais visto. Não, ele não morreu, simplesmente não foi mais visto. Há quem diga que ele continuou indo a sua faculdade e conquistando suas garotas. Mas, de forma geral, sumiu. O segundo, por sua vez, começou a caminhar mais pelas ruas, prestar mais atenção a seus detalhes e suas gentes. Decidiu viajar carregando só uma mochila.

quinta-feira, maio 10, 2007

A Folga

Depois da sapecada do Grêmio ontem, vindo de momentos tão decisivos nas últimas semanas, e alegres, merecemos nós, volantes de contenção, descansar um pouco. Ou não?

Sobre a folga, a interessante crônica de Artur de Carvalho na Carta Maior. Leia-a aqui.

quarta-feira, maio 09, 2007

As Mulheres no Frio

Tu, leitor, também tens a impressão de que as mulheres ficam mais bonitas no frio?

Descobri ontem, durante uma conversa com um amigo, que não era somente eu a achar isso. Repara, leitor, te recomendo. Senta-te numa mesa de bar, peça uma torrada, um café, coisa assim, às três da tarde de uma quarta-feira. Senta-te, e observa. Procura ficar perto da porta, ou cuida a guria que te serve. Certifica-te que está frio deveras, suporta-o, e repara.

As mulheres passarão diante de teus olhos apressadas, cuidando de suas vidas como tu deverias estar fazendo com a tua. Repara seus rostos, suas faces e narizes avermelhados pelo vento. Seus olhos lacrimosos pelo mesmo, voltados ao chão, preocupadas com tantas coisas que nós, homens, somos incapazes de compreender. Repara seus ombros e peitos escondidos por aquela pesada blusa de lã branca, nos fazendo imaginar coisas que passam pela nossa mente de forma tão rápida quanto seus passos, diante da porta.

E passam muitas. Repara como são tantas. Todas iguais, igualmente apressadas, com rostos vermelhos. Igualmente lindas.

Não... Não há nenhuma vulgaridade, nenhuma parte de seus corpos à mostra. Seus rebolados e formas estão escondidos por suas roupas elegantes e necessárias nessa tarde cinza, expondo somente nossas idéias e vícios, que nos perturbam enquanto nos conduzem na vida. Repara como somos mal tratados pela imaginação que temos de seus corpos, e como essa imaginação, lá no fundo, nos alegra. Uma alegria simples. É aquela distração súbita, aquele sorriso que nos vem à boca daquele charme e mistério, daquela melancolia feminina que nos seduz sem sabermos porquê.

Parece que poderíamos de repente nos apaixonar por qualquer mulher. Sobra-lhes muito de belo, como reparas. Mas mais parece que nos falta algo, numa carência que jamais será saciada. É como se não pudéssemos agir, mas apenas... reparar. E reparamos.

Ah, leitor... Também tens a impressão de que as mulheres ficam mais bonitas no frio?

terça-feira, maio 08, 2007

O Frio

O frio porto-alegrense é um amor de verão.

Chega como um parente malquisto à nossa casa: faz uma pequena visita num domingo à tarde, depois passa o fim de semana; logo uma semana inteira para alguma atividade que lhe exige ficar na cidade; por fim, depois de um mês a menos de quinze graus, ninguém o suporta mais. Vai-se o charme, os afagos, o aconchego; ficam os reclames e as lembranças dos defeitos.

Nos orgulhamos de ser provincianos. Temos orgulho da Porto Alegre como cidade pequena, alheia ao progresso das grandes metrópoles. Nos orgulhamos do nosso bairrismo cultural, dos autores e coisas daqui, mesmo que estes não sejam tão importantes assim. Ser porto-alegrense é ter a garantia de amparo nas nossas mentes fechadas.

Temos orgulho disso tudo.

Até do frio. Um frio tropical, mas nosso.

segunda-feira, maio 07, 2007

Ao leitor

Os Pensamentos mudaram. Talvez continuem sendo do mal, mas certamente não são mais os mesmos. Precisava expressar isso de alguma forma. Pensei em criar outro blog, que já tinha até batizado: Fome. Acho que a fome é o sentimento mais nobre e honroso de ser humano, que nos faz iguais, podendo significar muitas coisas. Há muitos tipos de fomes, mas isso não interessa aqui. Optei pelo poder da marca, mudei o subtítulo da página e o seu visual, por um mais, digamos, suave.

O mal também pode ser suave, principalmente se tratando de pensamentos. É que antes eu tinha a sensação arrogante de que minha função na vida era mudar as coisas, ou tentar e tentar, que fosse. Era altruísta, mas desisti. Não tenho obrigação nenhuma de mudar o mundo. Hoje, entendê-lo já me deixaria pra lá de satisfeito. Agora é egoísta, eu sei, mas são questões minhas, enfim.

Quem lê esse blog com alguma freqüência, ou aquele que se der ao trabalho de verificar algumas postagens passadas, verá que o estilo desta é bem diferente. Tende a ser assim a partir daqui, e essa é a principal das mudanças que estão ocorrendo no Pensamentos: menos rigor, mais devaneio. Menos artigo científico, mais blog. Mais diálogo. Mais dinamismo. Acho que isso já vinha ocorrendo de certa forma. Estou com algumas idéias, e acho que esse blog, antes despretensioso, me pode ser útil. Questões minhas novamente.

Crônicas e contos. Rigorosamente, há diferenças entre esses dois campos da arte de escrever. Aqui, não haverá.

Espero mantê-lo comigo, leitor.