segunda-feira, janeiro 22, 2007

Filhos da Razão

Já faz um tempo, numa entrevista de um diretor de teatro no programa Provocações, da TV Cultura, o apresentador Antônio Abujamra fez um comentário mais ou menos nessas palavras: “O pior é saber que nós, nas nossas idades, ainda somos os mais modernos. Onde está a juventude para nos contestar, para nos desrespeitar, para nos mostrar que estamos errados?”.

Sempre fui um defensor da minha geração. Nunca admiti que um velho falasse que a juventude de hoje é isso ou aquilo, que é alienada, despolitizada. Que moral têm os velhos para falar de nós, jovens? Quais eram os seus desafios e quais são os nossos? Se existe uma coisa que odeio é aquele papo de velho ao estilo “meu jovem, ouça a voz da experiência...”.

Essa tal “voz da experiência” é um câncer do qual a sociedade tem que se curar o quanto antes.

É impressionante ver como nossos pais realmente acham que mudaram o país e o mundo. Falam de Woodstock, da revolução sexual, da luta contra a ditadura. Acham que a vida antes era mais difícil. Coitados... Não sabem nada do hoje, e ainda querem nos dar conselhos.

A liberdade sexual está aí, a ditadura se foi, e o mundo da Guerra Fria fala na irreversibilidade da globalização. E nós, como estamos? Temos tudo e nada ao mesmo tempo.

Os que dizem que a vida dos jovens hoje é mais fácil não têm idéia do que é viver sem causa, numa época que não pensa, que não reflete. Faço parte da juventude mais revolucionária de todos os tempos, mas que não tem inimigo. Não sabemos contra o que lutar. Vivemos na era da descrença: as religiões são uma farsa; a política, uma hipocrisia; e os sonhos, ilusões. Isso é que a juventude pensa, e de forma cada vez mais individualista.

Deve ser muito bom acreditar que é possível mudar o mundo, mesmo que o preço disso seja um pouco de ingenuidade. Somos, no entanto, os filhos da razão: céticos, perdidos e sedentos de fé.

3 comentários:

Anônimo disse...

Que nem diz na música do Ultraje a Rigor

"Não vai dar, assim não vai dar
Como é que eu vou crescer sem ter com quem me revoltar
Não vai dar, assim não vai dar
Pra eu amadurecer sem ter com quem me rebelar"

Rebelde sem Causa


Todas gerações tem suas dificuldades, e dizer que a nossa tem tudo "na tranquilidade" é um erro. A cada dia precisamos enfrentar a sociedade em busca de empregos e oportunidades diversas e isso não é algo "tranquilo". Todo jovem da nossa faixa etária já deve ter passado horas e horas pensando no futuro que nos aguarda; desde a (talvez errônea) escolha da profissão para o resto da vida, quando temos nem 20 anos, passando sobre as dificuldades cada vez maiores de enfrentar o mundo de cabeça erguida.
Põe-se esperança em nós, como se soubessemos a solução de todos os problemas, enquanto nem sabemos ás vezes a resolução de uma questão de prova

rj disse...

Nossa geração teve pouco tempo
começou pelo fim
mas foi bela a nossa procura
ah! moça, como foi bela a nossa procura
mesmo com tanta ilusão perdida
quebrada,
mesmo com tanto caco de sonho
onde até hoje
a gente se corta.

Alex Polari

Camila disse...

O Rodrigo me mandou agora esse texto, fiquei espantada com o tanto que concordo com o que foi dito.
Só acrescento que a maioria de nós não sabe quão revolucionário é, por isso todo o individualismo e contentamento, que é extremamente conveniente pros 'donos' dessa sociedade.