Em mais uma madrugada insone, misturada ao frio entorpecedor que assola nosso Estado, lembrei de um desafio “bloguístico” repassado pelo Cão Uivador, e meu grande amigo, Rodrigo Cardia já há um tempo, sobre o qual havia pensado mas não transcrito, tampouco esclarecido, à pena. Trata-se da questão que titula essa crônica, formato que caracteriza tantos outros textos aqui postados, pois nada mais faço eu nessa página do que humildemente tentar responder a perguntas.
Objetivamente, sim, eu acredito em Deus. É um posicionamento político: nada mais contestador do que acreditar em Deus em pleno modernismo, em plena sociedade da razão. Porque hoje a moda é ser cético, ser agnóstico é fashion, e questionar a Bíblia dá respeito intelectual. Eu, então, como um neo-anarquista, contrário a tudo o que é consenso, acredito em Deus. É uma forma de resistência à cultura de massas. Afinal, como diz Rita Lee, hoje ser do contra é ser careta.
Fui educado numa tradição católica razoavelmente ortodoxa: fui batizado, fiz a primeira comunhão (e era um dos que mais assiduamente cumpria a obrigação de ir às missas de domingo), participava de novenas de natal, e até já fiz procissão para pagar promessa. Minha família, como toda a pretendente a estável, também é religiosa, se não nos compromissos, nos hábitos. Cumpre os dez mandamentos à risca, mesmo sem saber. Para ela, a novela das oito é uma coisa legal e a Madonna é uma depravada. Ou seja, uma família brasileira típica!
Mesmo assim, lembro de sempre ter tido a consciência de que a religião é uma historinha que se cria para explicar o mundo sob nossas concepções. E não digo isso em forma de crítica. É como o Lula que explica seu governo através do futebol. Se não fosse a metáfora, a interpretação de Deus pela hard science não conseguiria o apaziguamento de nossas angústias como a religião felizmente costuma fazer.
Sou um adepto da teoria do caos. Vejo Deus como um jogador de sinuca: ele dá a primeira tacada, e as bolas passam a se movimentar aleatoriamente pela mesa. É claro que a maneira de sua tacada, de alguma forma, tem influência sobre o movimento de todas as bolas, mas, depois dela realizada, elas simplesmente se movimentam por si, sofrendo influência umas das outras, mas não mais do jogador. Percebo um Deus pouco presente, e até pouco interessado, nas nossas coisas mundanas e mesquinhas, embora o reconheça como a origem, o impulso, o responsável pela direção de toda nossa existência.
Questões surgem dessa interpretação. A mais saliente talvez seja acerca de um destino, ou não, pré-determinado a todos nós. Será que as bolas têm capacidade de alterar seus próprios percursos ou estes estão rigidamente definidos pela tacada inicial? Não sei. Às vezes, por incrível que pareça a alguns, me é mais confortável acreditar em destino, pois me passa segurança, independentemente de qual seja o meu. Sermos os únicos responsáveis pelas nossas vidas é um peso muito grande a ser carregado.
Brinco que digo acreditar em Deus só para o caso de um dia, se candidato a presidente, ter alguma chance de me eleger. São os crentes que votam – nem todo mundo que acredita em Deus acredita na política, mas quem acredita na política acredita em qualquer coisa, até em Deus.
Bendita seja a tacada, amém.
Objetivamente, sim, eu acredito em Deus. É um posicionamento político: nada mais contestador do que acreditar em Deus em pleno modernismo, em plena sociedade da razão. Porque hoje a moda é ser cético, ser agnóstico é fashion, e questionar a Bíblia dá respeito intelectual. Eu, então, como um neo-anarquista, contrário a tudo o que é consenso, acredito em Deus. É uma forma de resistência à cultura de massas. Afinal, como diz Rita Lee, hoje ser do contra é ser careta.
Fui educado numa tradição católica razoavelmente ortodoxa: fui batizado, fiz a primeira comunhão (e era um dos que mais assiduamente cumpria a obrigação de ir às missas de domingo), participava de novenas de natal, e até já fiz procissão para pagar promessa. Minha família, como toda a pretendente a estável, também é religiosa, se não nos compromissos, nos hábitos. Cumpre os dez mandamentos à risca, mesmo sem saber. Para ela, a novela das oito é uma coisa legal e a Madonna é uma depravada. Ou seja, uma família brasileira típica!
Mesmo assim, lembro de sempre ter tido a consciência de que a religião é uma historinha que se cria para explicar o mundo sob nossas concepções. E não digo isso em forma de crítica. É como o Lula que explica seu governo através do futebol. Se não fosse a metáfora, a interpretação de Deus pela hard science não conseguiria o apaziguamento de nossas angústias como a religião felizmente costuma fazer.
Sou um adepto da teoria do caos. Vejo Deus como um jogador de sinuca: ele dá a primeira tacada, e as bolas passam a se movimentar aleatoriamente pela mesa. É claro que a maneira de sua tacada, de alguma forma, tem influência sobre o movimento de todas as bolas, mas, depois dela realizada, elas simplesmente se movimentam por si, sofrendo influência umas das outras, mas não mais do jogador. Percebo um Deus pouco presente, e até pouco interessado, nas nossas coisas mundanas e mesquinhas, embora o reconheça como a origem, o impulso, o responsável pela direção de toda nossa existência.
Questões surgem dessa interpretação. A mais saliente talvez seja acerca de um destino, ou não, pré-determinado a todos nós. Será que as bolas têm capacidade de alterar seus próprios percursos ou estes estão rigidamente definidos pela tacada inicial? Não sei. Às vezes, por incrível que pareça a alguns, me é mais confortável acreditar em destino, pois me passa segurança, independentemente de qual seja o meu. Sermos os únicos responsáveis pelas nossas vidas é um peso muito grande a ser carregado.
Brinco que digo acreditar em Deus só para o caso de um dia, se candidato a presidente, ter alguma chance de me eleger. São os crentes que votam – nem todo mundo que acredita em Deus acredita na política, mas quem acredita na política acredita em qualquer coisa, até em Deus.
Bendita seja a tacada, amém.
2 comentários:
Não acho que ser agnóstico seja "moda". Sou agnóstico porque não posso afirmar com segurança que Deus existe, mas também não posso afirmar com segurança que Deus não existe.
Moda mesmo é ser "crente", tanto que quando tu for candidato a presidente vai ter que dizer que sempre acreditou em Deus...
Abraços
Diego, ser agnóstico só é mainstream entre os gaúchos! E isso não é moda, meio que faz parte da cultura, está presente desde sempre, conforme o livro "O Tempo e o Vento" do Erico Veríssimo conta.
Aqui em BH, o povo é muito religioso, tem mais igreja evangélica pelas esquinas do que padaria. E o "mercado da fé" é bem diversificado. Tem igreja voltada para fiéis ricos, outras para pobres... é meio bizarro, mas é real.
Gostei muito de teu post, como gosto de todos. Eu também acredito em Deus, mas acho que as instituições religiosas usam os dogmas e o temor dos fiéis como instrumento de dominação intelectual, e em alguns casos, político. Por isso me defino como agnóstico.
"Sermos os únicos responsáveis pelas nossas vidas é um peso muito grande a ser carregado." é uma frase célebre!
Postar um comentário